11.08.2009

Sobre seus olhos

“No dia que fui mais feliz,
eu vi um avião se espelhar no seu olhar até sumir...”
Adriana Calcanhoto


Já não sei se foi o tempo que passou ou se realmente eu que já não tenho memória; as coisas ficaram nebulosas, mas os seus olhos permanecem e fazem de minha vida um não-sei-que. Pois que às vezes me assustam e outras me inebriam de paixão. Já não sei se pelo tempo; mas, o que é o tempo? O período que se passou contado em dias ou os momentos que realmente vivemos? Os dias que não foram vividos, eles haverão de ser contados?
Só sei que, quando aparecem como paixão, aqueles grandes olhos, trazem junto uma história que pode ser vista, lida, sentida... sem intervalos, dia após dia, trazendo uma unidade que talvez não tenha existido, ou quem sabe, apenas dando outra forma ao que nos ensinaram sentir diferente.
É engraçado o como eles ficam grandes e brilhantes, e como podem aparecer em momentos em que seria impossível: como enquanto você dorme - imagino que isso não deve ter acontecido num dia real, mas quando vem, você dorme de olhos grandes, abertos, e ao mesmo tempo é um dormir singelo, de criança. É como se mesmo fechados, eles, seus olhos, continuassem a iluminar.
Talvez seja isso; luz! É engraçado que mesmo tão abertos, e sendo, eles, o que poderia servir de sua representação em mim, eu não saiba como sejam: cor, formato... Isso dá aquele gosto de que falava o Caio Abreu - de morangos com mofo - ou talvez o gosto de que fala a minha mãe - de cabo de guarda-chuva - mesmo sem saber de verdade se eles são iguais ou não.
Como passar toda a historia do que foi vivido, tendo como projetor teus olhos, e ao mesmo tempo eu não saber como são?
Sei que são eles quando vejo, identifico-os sem pensar, e os encontraria no rosto de qualquer transeunte, mas..., não sei ao mesmo tempo. Hoje eles povoaram meu dia, acordei, e eles já estavam lá; estão desde a vez em que nos falamos, sua voz alta chegava até mim baixinha e eu, de olhos fechados, tentava compreender o que você dizia, e via seus olhos. E eles ficaram presente. Não se desfizeram quando você se foi...

"... Não sei o que em mim
só quer me lembrar
que um dia o céu
reuniu-se à terra um instante por nós dois
pouco antes do ocidente se assombrar ..."


Para o dia 08 ago. 2000

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